quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Jornalismo científico: Um estudo de caso do Jornal A Tarde

1. INTRODUÇÃO

O jornalismo científico hoje é tão importante para a sociedade como qualquer outro tipo de jornalismo, pois favorece o desenvolvimento social e apresenta ao mundo os avanços tecnológicos. Além do que, as descobertas no campo da ciência e suas repercussões quando noticiadas implicam diretamente na vida cotidiana da população. Para Wilson Bueno, no jornalismo científico, com mais ênfase que nos demais, o grau de dependência do jornalista em relação às suas fontes é bem mais acentuado, uma vez que as mesmas, na maioria das vezes, são especialistas no assunto da pauta, por trabalharem diretamente com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia.
O jornalista, como profissional responsável por transmitir informações imparciais, claras e objetivas, deve por lei apurar bem os fatos como previsto no art. 7º do Código de Ética do Jornalista: “O compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos conhecimentos”. No entanto, muitos jornalistas ignoram tal compromisso e não apuram aquilo que está além da notícia e da fonte. Tal postura se dá, sobretudo, devido ao limitado conhecimento de alguns profissionais sobre assuntos científicos e à credibilidade que pesquisadores, cientistas e técnicos têm diante do público.
Este estudo aborda a análise da relação fonte x jornalista no jornalismo científico, tendo como objeto de estudo o editorial Observatório, do jornal A TARDE, publicado semanalmente às quintas-feiras. Para a análise, foram selecionadas as editorias do mês de novembro de 2006, publicadas nos dias 16, 23 e 30.
Inicialmente, o trabalho aborda a importância das fontes de informações para toda e qualquer atividade jornalística. Sob a perspectiva da relação jornalista x fonte, há uma breve abordagem do jornalismo científico e o uso de fontes no mesmo. Posteriormente, apresenta-se a metodologia utilizada para a análise do objeto de estudo bem como o referencial teórico utilizado. Em ato contínuo, é apresentado um breve historio do Jornal A TARDE e do Editorial Observatório. Por último, a quantificação e análise dos resultados e variáveis apurados durante o período analisado, visando uma compreensão do jornalismo científico e da relação das fontes diante dos textos publicados.

2. FONTES NO JORNALISMO

O progresso do jornalismo está relacionado com o desenvolvimento nos meios de comunicação. Não basta, pois, limitar-se a gostar de escrever, é preciso saber o que se vai escrever e isso vai se tornando importante à medida que o profissional de jornalismo dedica-se a buscar um exercício diário e de entrosamento familiar com o seu trabalho.
Segundo Juan Beneyto, um dos primeiros passos mais importantes que levam a esse progresso é considerar-se plenamente cidadão, pois o homem de hoje precisa estar interado de boas informações e para isso, ele precisa dispor de fontes informativas que lhe permitam conhecer o que se passa e, em seguida, formar juízo sobre os acontecimentos.
A arte de fazer reportagem está relacionada a manter-se sempre a par dos acontecimentos do dia, ler outros jornais e revistas, ouvir o maior número possível de programas noticiosos como rádio e televisão e principalmente criar vínculos “pessoais” mantendo bons relacionamentos com instituições ou personagens que testemunham ou estão sempre participando de eventos de interesse público.
O processo de relacionamento com as fontes é derivado de conhecimento e bom domínio de informações e para isso é necessário, que o profissional que busca qualificar-se e interagir-se com a sociedade e os meios de comunicação que ele atua, esteja sempre em comunhão com pessoas ou instituições que possam fornecer assuntos de muito interesse.
É preciso saber identificar de maneira técnica e analítica os tipos de fontes. As mais utilizadas são as fontes fixas e as fora de rotina. A primeira, voltada para assuntos do cotidiano, embora não revelem muito interesse, elas podem mesmo assim, serem importantes. As fontes fixas são encontradas e visitadas obrigatoriamente pelos repórteres em locais públicos como a Polícia, Corpo de Bombeiros, Prefeitura, Câmara Municipal, Congresso Nacional, Centros de Saúde, Hospitais entre outros. Na verdade elas se resumem desde as Agências Noticiosas, Informantes até os próprios amigos do jornal e pessoas voluntárias; já a segunda, é direcionada especialmente quando o esclarecimento de um fato o exige, como por exemplo, a causa de uma condenação esperada.
O universo das fontes é muito amplo, existindo uma diversidade de situações que estão diretamente relacionadas com os tipos de notícias. As fontes não declaradas são exemplos dessa diversidade. São aquelas pessoas bem informadas, como altos funcionários ou políticos importantes, que confiam em adiantar alguma notícia, ou até mesmo fazer uma análise ou julgamento relacionado a acontecimentos delicados, ou seja, são como informações confidenciais.
O universo dessas fontes vai se ampliando à medida que as informações adquiridas vão criando mais espaço num campo de processo investigativo, podendo ser diretas, indiretas e adicionais, onde as diretas estão relacionadas a pessoas envolvidas em um fato ou ocorrência; já as indiretas são as pessoas que, por se sentirem no dever de contribuir de maneira cívica e social com a sociedade ou comunidade em que vivem, desejam colaborar por saberem de um fato circunstancial e por fim, as adicionais, que fornecem complemento para as informações suplementares.
Há ainda aquela situação em que as fontes são analisadas de maneira como aparecem na notícia. Essas, porém, são qualificadas como ostensivas ou indeterminadas. As ostensivas quando o leitor pode identificar sem dificuldades, quem forneceu um determinado dado para aquela matéria; enquanto que as indeterminadas são tidas como gerais, onde o leitor não pode identificar quem é o autor daquela determinada informação.
A expressão “fonte” também pode ser interpretada como um termo geralmente usado pelos jornalistas em geral que não desejam revelar onde conseguiram os elementos para os quais produziram suas matérias. É curioso acrescentar que, no jornalismo, o termo “porta-voz” é muitas vezes confundido como fonte, mas, o que é preciso saber, é que o porta-voz não deixa de ser um exemplo de fonte e não uma fonte necessariamente. Digamos que o porta-voz seja uma fonte autorizada, representada por uma pessoa física (alta autoridade) ou jurídica (um grupo importante) que tem como função, expressar autorizadamente os respectivos pensamentos.
É preciso que o trabalho de apuração de dados e/ou fatos, seja do cotidiano ou não, nunca se transforme numa guerra de informações. As fontes devem ser entendidas como meios de perceber a realidade, construindo um modelo mental dela, seja numa conversa ou num desabafo, buscando interagir o informante com a mensagem.

3. JORNALISMO CIENTÍFICO

A divulgação de informações voltadas para a Ciência e Tecnologia (C&T) é tão importante para a sociedade quanto às informações sobre política, economia, cidadania, etc., pois além de contribuir para a formação de uma cultura científica, favorece a interação dos diferentes grupos sociais nos debates voltados parta esse setor, oferecendo assim o direito do cidadão comum opinar a favor ou contra as propostas e decisões tomadas. Segundo Fabíola Teixeira (2002, pg.12), mesmo com os avanços científicos e tecnológicos nas mais diversificadas áreas, ainda persiste no país “uma certa resistência” em divulgar conteúdos sobre C&T não apenas por parte dos leigos, mas também por parte de profissionais da área de comunicação e pesquisadores, devido à possível dificuldade em transmitir o assunto para o público. Atrelado a isso surge o questionamento: — para quem divulgar C&T?
Fabíola de Oliveira (2002) defende que independente da classe socioeconômica da população brasileira, o jornalismo científico deve ser divulgado entre todas as pessoas, para o exercício da democracia participativa na sociedade, tendo em vista a inserção deles na base da pirâmide social, uma vez que todos os cidadãos participam das eleições governamentais e que a C&T trazem conseqüências comerciais, estratégicas, burocráticas, e na saúde, o que interfere diretamente no processo político. Sobre esse aspecto citado por Teixeira, Warren Burkett (1990, pg.133), cita em seu livro que:

As histórias sobre tais tópicos contem elementos carregados de valores noticiosos: conflito, sobrevivência, dinheiro, poder, impacto e personalidade. Esses afetam e são afetados pela comunidade científica, assim como todas as outras comunidades ou interesses especiais. [...]
Entretanto, para que a divulgação de C&T ocorra como expressão de democracia participativa, é necessário que se entenda o processo de produção de informações para as mídias, partindo da abordagem acerca de uma das matérias primas do jornalismo: as fontes de informações.
Segundo Wilson da Costa Bueno (2005) em seu artigo “O jornalismo cientifico e o compromisso das fontes”, o jornalismo científico, enquanto elemento difusor de notícias relacionadas à C&T, pode ser visto como o que mais possui fontes à disposição. As fontes são representadas por empresas, entidades, associações acadêmico-científicas, pesquisadores e cientistas. Acontece, porém, que algumas editorias que se dizem “especializadas” em jornalismo científico, diante da confiabilidade e credibilidade de suas fontes, deixam de cumprir atribuições inerentes a qualquer atividade jornalística, sobretudo as relacionadas à apuração de fatos e informações transmitidas pelas fontes. Tal tendência imputa o risco de transmissão de informações tendenciosas a interesses particulares. Um exemplo disso está na relação entre os jornalistas e os agentes sociais, onde os primeiros exploram através dessas fontes oficiais ou não, contradições que existem entre estes agentes.
Outro fator importante entre as fontes de jornalismo científico é identificar a ligação entre o profissional do jornalismo com a divulgação da ciência e tecnologia C&T, pois é difícil encontrar profissionais da imprensa que se dediquem a trabalhar exclusivamente neste campo. Para Fabíola de Oliveira (2002), a justificativa para esse desinteresse pode ser apontada pela falta de capacitação e/ou interesse dos profissionais, o que se converte numa espécie de “dificuldade de transmitir o assunto” para o público do ponto de vista do cientista-pesquisador. Já para Wilson Bueno (2005), o ínfimo interesse na divulgação de C&T pode também estar ligado à relação desequilibrada entre o repórter e a fonte. Tal relação precisa ser bem equilibrada, o responsável pela publicação da notícia deve estar antenado ao assunto em pauta e deve ouvir todas as fontes necessárias, para que a cobertura jornalística voltada à C&T não fique fragmentada, ou perca seu sentido informativo e termine servindo apenas para fins mercadológicos. Bueno (2005) ainda fala que a aceleração do processo de produção jornalística atropela a coleta e a “checagem” das informações.
A arte de entrevistar fontes jornalísticas voltadas para a C&T exige do profissional uma visão crítica e interdisciplinar, uma aguçada capacidade de reflexão e muita dedicação, deixando para trás os velhos hábitos e condicionamentos comuns nas redações, como por exemplo, as formalidades contextuais do cotidiano que divergem da ciência e da tecnologia. O grande desafio é encontrar fontes sólidas e responsáveis, que não estejam voltadas exclusivamente e/ou envolvidas com fatos espetaculares, de ordem irregular e ausentes de especializações.
Além do comprometimento da informação, deve haver uma relação de cumplicidade entre fonte x jornalista, onde no momento da entrevista, o profissional deve exercer um esforço para estabelecer sigilo e controle que estão diretamente voltados para as apurações científicas, com o intuito de proteger interesses de parcerias privadas para financiamentos de grandes projetos, por exemplo.

4.METODOLOGIA

Visando uma breve abordagem acerca da relação jornalista x fonte no jornalismo científico, o presente artigo propõe uma reflexão, partido da análise do Observatório, editoria de C&T do Jornal A TARDE, publicada semanalmente às quintas-feiras. Para a análise, foram selecionadas as editorias publicadas durante o mês de novembro/2006, nas publicações dos dias 16, 23 e 30, num total de três edições.
A escolha pelo Jornal A TARDE se deu pelo fato do mesmo ser um dos únicos grandes jornais baianos a dedicar uma editoria exclusivamente para falar de C&T. Salienta-se, entretanto, que tal afirmação não significa que os demais jornais da capital baiana não falem sobre C&T. O que ocorre é que os demais jornais da capital baiana — Correio da Bahia e Tribuna da Bahia — publicam as matérias relacionadas à C&T em outras editorias, geralmente às de saúde, economia, etc., a depender do enfoque e enquadramento das matérias.
Na definição do trabalho, estabeleceu-se que o período analisado deveria ser mensal e alusivo ao segundo bimestre do ano de 2006. Desta forma, a escolha pelo mês de novembro foi de forma aleatória, dentre os meses junho/dezembro. O grupo também acatou sugestão da orientação da orientadora do trabalho, Profª. Débora Lopez, que indicou o mês de novembro como opção de escolha, pelo fato de ser um dos períodos do ano em que um número considerável de pesquisas de C&T é finalizado e disponibilizado à mídia para veiculação.
Tendo em vista que a abordagem do trabalho é analisar a relação jornalista x fonte no jornalismo científico do editorial Observatório do Jornal A TARDE, inicialmente houve uma leitura de todas as matérias e notas curtas publicadas durante o período analisado, visando uma quantificação dos mesmos, conforme se vê na tabela e/ou apêndice 1. Partindo dos valores totais encontrados em cada categoria estabelecida, o próximo passo foi a tabulação de todas as espécies de fontes detectadas nas matérias e notas curtas analisados, com o objetivo de relacionar as variáveis encontradas.
Em relação às variáveis, de acordo com os dados apurados, foram estabelecidas as seguintes categorias: matérias assinadas por jornalistas; matérias assinadas por agências de notícias; fontes institutos de pesquisa; fontes que se repetem; fontes preservadas; pesquisadores autônomos e entidades, que serão explicadas posteriormente nos resultados.As sete categorias de variáveis selecionadas para a análise foram estabelecidas a partir da categoria de fontes oficiais e oficiosas, de LAGE (2002), o qual declara que:
[...] Fontes oficiais são mantidas pelo Estado; por instituições que apresentavam algum poder de Estado, como as juntas comerciais e os cartórios de ofício; e por organizações, como sindicados associações, fundações, etc. Fontes oficiosas são aquelas que, reconhecidamente ligadas à uma entidade ou indivíduo... e Fontes Independentes que são aquelas desvinculadas de uma relação de poder ou interesse específico em cada caso. [grifo nosso]Diante disso, a última etapa do trabalho abrange a análise e interpretação das variáveis encontradas, com base no referencial teórico abalizado, visando uma abordagem crítica de como se dá o posicionamento do Observatório na relação jornalista x fonte.


5. O JORNAL A TARDE


O Jornal A TARDE foi fundado em 15 de outubro de 1912 por Ernesto da Silva Freitas Filho, falecido em 1957. Atualmente é presidido pela sua Filha Dona Regina Simões de Mello Leitão. Com veiculação diária, o jornal tem como compromisso levar a informação aos seus leitores com qualidade e para isso, conta com 16 cadernos que abordam temas dos mais diversos, adequando-se aos interesses de seu público leitor e anunciante. Atualmente, é um dos veículos de comunicação de maior circulação do Norte/Nordeste e as informações por ele produzidas geram um efeito significativo a longo prazo em toda sociedade. Afrânio Coutinho, professor, crítico literário e ensaísta brasileiro, fala a respeito da força que o jornal A TARDE tem perante a sociedade para o seu fundador Ernesto da Silva Freitas Filho.

[...]Não lhe foi possível dedicar à Bahia o que a sua força moral lhe reservava em energias, competência, espírito público, capacidade de servir. Deu-lhe, no entanto, outra arma, o seu grande jornal, que penetra em todos os lares baianos, imprescindível, indestrutível, a sua voz, a voz de todos, a voz que fala por todos. [1][...]
Diante de seu alcance o grupo A TARDE define-se como imparcial e neutro em todos os seus temas. Visando uma verificação de tal postura, o presente artigo analisou o Observatório, editoria de ciência e tecnologia do Jornal A TARDE.
Segundo Tatiana Mascarenhas, o jornal A TARDE, deu um importante incentivo a divulgação de C&T em meados de 2003, ao criar uma página semanal intitulada como Ciência/ Saúde, publicada todas as terças-feiras, devido há ser o dia em que havia pouca venda do jornal. Período em que o jornal passou por algumas reformulações sob o comando do jornalista Ricardo Noblat, sua intenção era atrair os leitores.
De início a intenção do grupo A Tarde era unir as matérias de C&T internacionais com o noticiário local. Grande parte dos textos publicados eram produzidos por agências de notícias internacionais que davam algumas vezes destaque a trabalhos realizados pelos centros de pesquisas baianos. Hoje a editoria tem o nome de Observatório, aborda mais assuntos ligados a saúde do que ao próprio desenvolvimento de C&T, e passou a ser publicada de forma esporádica e as quintas-feiras. Observamos que geralmente são publicadas três vezes no mês, ao em vez de quatro.
Embora inicialmente quantitativos, os resultados que se seguem servirão de base para a análise e interpretação da relação jornalista x fonte, partindo das variáveis detectadas no objeto de estudo bem como da dimensão teórica em torno do jornalismo científico e o compromisso das fontes.
Foram encontrados no editorial Observatório durante o período analisado um total de 9 (nove) matérias, 15 (quinze) notas curtas, 51 (cinqüenta e uma) fontes e 27 (vinte e sete) variáveis. Preliminarmente, pode-se constatar um número razoável de fontes em relação ao número de matérias publicadas durante o período. Por outro lado, observa-se também uma pouca divulgação de C&T por parte do Observatório, uma vez que, durante um mês de análise, apenas três edições do editorial foram publicadas, com três matérias em cada edição.
Em relação às variáveis, de acordo com os dados apurados, foram estabelecidas as seguintes categorias:
1. Matérias assinadas por jornalistas – matérias principais de cada edição do Observatório que, diferente das matérias secundárias e das notas curtas, possui assinatura de jornalista. Nesta variável foi encontrado um total de três matérias, sendo duas matérias assinadas pelo jornalista Cláudio Bandeira (edições de 16 e 30/11/06) e uma assinada pelos jornalistas Fabiana Mascarenhas e Juscelino Souza (edição de 23/11/06). Tal resultado vai de encontro com a teoria de Oliveira (2002), quando a mesma diz que, no jornalismo científico, é difícil encontrar profissionais da imprensa que se dediquem exclusivamente neste campo. Os resultados encontrados pressupõem uma escassez de jornalistas especializados em C&T, uma vez que, durante o período analisado, duas das três matérias principais são assinadas pelo mesmo jornalista.
2. Matérias assinadas por agências – matérias produzidas por agências de notícias e geralmente são publicadas da forma como são recebidas. Nesta variável foi encontrado um total de quatro matérias secundárias, sendo três matérias assinadas pela Agência FAPESP, de São Paulo-SP (edições de 16 e 30/11/06) e uma assinada pela Agência Estado, de Chicago-IL/EUA (edição de 16/11/06). Tal resultado revela uma tendência comum em algumas editorias de C&T, que é de divulgar uma grande quantidade de matérias prontas, ou se seja, aquelas produzidas por agências de notícias. Conforme Bueno (2005), tal comportamento induz a uma prática de jornalismo científico que, diante da confiabilidade e credibilidade das agências e/ou fontes especializadas, deixam de cumprir algumas atribuições inerentes a qualquer atividade jornalística, sobretudo as relacionadas à apuração dos fatos e informações transmitidas pelas fontes.
3. Fontes Institutos de Pesquisas – fontes que, como o próprio nome já diz, são representadas por institutos de pesquisas na condição de divulgadores dos resultados de pesquisas por eles realizados. Nesta variável foi encontrado um total de cinco fontes, sendo três fontes citadas em matérias da edição de 16/11/06 e duas fontes citadas em matérias da edição de 30/11/06. No jornalismo científico, com mais ênfase que nos demais, a utilização de fontes oficiais, conforme teorizado por Lage (2002), é uma prática muito presente, e isso ocorre no caso do Observatório, onde um número considerável de fontes oficiais aparece.
4. Fontes que se repetem – fontes que citadas mais de uma vez em uma ou mais matérias. Podem ser representadas por instituições ou pesquisadores individuais. Nesta variável foi encontrado um total de onze fontes, sendo que nas edições de 16 e 23/112006, um total de três fontes se repetiu em matérias diversas e na edição de 30/11/06 um total de cinco fontes se repetiu.
5. Fontes preservadas – fontes não identificadas, citadas simplesmente pelo uso do adjetivo ou categoria da fonte, entendidas pela equipe como “fontes preservadas”. Nesta variável foi encontrado um total de seis fontes, sendo uma fonte preservada em matéria da edição de 16/11/06, duas fontes em matérias da edição de 23/11/06 e três fontes em matérias da edição de 30/11/06.
6. Pesquisadores autônomos – fontes identificadas por pesquisadores autônomos, geralmente àqueles desvinculados a algum instituto de pesquisa e/ou que desenvolvem projetos de pesquisa individualmente. Nesta variável foi encontrado um total de duas fontes, ambas publicadas na edição de 23/11/06.
7. Entidades – fontes oficiais representadas por ONG’s, sites, revistas, jornais, hospitais, fundações e universidades, encontradas aleatoriamente na quantificação dos dados e citadas em muitas das matérias analisadas. Nesta variável foi encontrado um total de vinte e seis fontes, sendo oito fontes encontradas em matérias publicadas na edição de 16/11/06; e nove fontes encontradas em matérias publicadas nas edições de 23 e 30/11/06, respectivamente.


6. CONSIDERAÇÕES FINAIS


O desenvolvimento da C&T está diretamente ligado ao cotidiano das pessoas, por isso é um tema que deve ser mais discutido pelos veículos de comunicação. Além disso, o uso das fontes de informação apresenta alguns problemas que estão além da dificuldade de transmitir assuntos da área. De acordo com os pontos analisados na editoria Observatório do jornal A TARDE, percebe-se que os problemas que interferem na qualidade das matérias de C&T e até mesmo na divulgação de assuntos deste tema, estão ligados à falta de prática jornalística.
Talvez isso esteja ocorrendo devido ao grupo A TARDE não ter um jornalista especifico para escrever sobre o tema, eles recebem matérias das agências de notícias de outros locais e os demais noticiários são produzidos por repórteres de outras editorias. Com o trabalho na maioria das vezes corrido, nem sempre eles param para checar as fontes, recebem indicações de colegas, e até mesmo de funcionários de instituições que não sabem ao certo a formação da fonte, apenas acha que é o melhor indicado a falar, além de ter o problema do interesse da fonte na publicação daquela matéria, que muitas vezes estão subentendidos no texto. Vale ressaltar que não estamos criticando o trabalho dos repórteres do jornal, nossa intenção aqui é a de analisar o comportamento do veículo, diante da relação das fontes com os jornalistas, visto que a divulgação de C&T envolve aspectos político, econômicos e culturais relevantes para a sociedade. Além de que a utilização das fontes de informação está relacionada à prática jornalística diária e suas diversas funções.


[1] Afrânio Coutinho, em Meu Ministro - 4/10/1986 - Caderno Especial de Centenário de Ernesto Simões Filho.
[2] Englobam-se como entidades, no presente artigo, as seguintes variáveis: ONG’s, sites, revistas, jornais, hospitais, fundações e universidades, encontradas durante a quantificação dos dados.


7. REFERÊNCIAS


CÓDIGO DE ÉTICA. O Código de Ética do jornalismo no Brasil. Disponível em Acesso em: 04/04/2007.BUCCI, Eugênio. Sobre ética e imprensa. São Paulo: Cia das Letras, 2002.

BUENO, Wilson da Costa. O jornalismo científico e o compromisso das fontes. Disponível em Acesso em: 16/03/2007.

BURKETT, Warren. Jornalismo Científico; como escrever sobre ciência, medicina e alta tecnologia para os meios de comunicação. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1990.

LAGE, Nilson. A Reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Fontes & Fontes. Rio de Janeiro: Record, 2002, págs. 49-78.LOPES, Felisbela. As fontes, os jornalistas e as leis. Disponível em Acesso em: 21/03/2007

MIGLIACCIO, Maria Inês. O Desafio Constante do Jornalismo Científico: Tarefa de Poucos para Muitos. Disponível em < http://www.hottopos.com/videtur4/ines.htm> Acesso em: 12/04/2007.

OLIVEIRA, Fabíola de. Jornalismo Científico. São Paulo: Contexto, 2002.

SANTANA, Fabiana Mascarenhas. Utilização das fontes no noticiário de C&T do jornal A TARDE. Trabalho de Conclusão de Curso. Salvador-Ba: Editora FIB, 2005.

ERBOLATO, MÁRIO L. Técnicas de Codificação em jornalismo. São Paulo: Ed. Ática 2002SITE do Jornal A Tarde. Disponível em <http://www.jornalatarde.com.br/institucional/> Acesso em: 11/04/2007

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